A Emenda Constitucional 29 está sendo finalmente votada no momento que escrevo este arquivo.
Tema dos meus dois últimos artigos motiva-me a iniciar este, manifestando a minha esperança em sua aprovação e de que principalmente, se aprovada, não termine em “água de barrela”, sendo os recursos a ela destinados, desviados de sua finalidade como já vi acontecer com a CPMF que tanto combati.
Falemos agora de outra área social, igualmente mal tratada pelo governo e não menos importante no campo da saúde como um bem público, a da formação do médico.
A divulgação dos baixos níveis de acertos nos exames realizados para médicos recém saídos das escolas específicas de nosso país, em campos primários da Medicina, como a Pediatria (59,3%), a Clínica Médica (56,5%), a Obstetrícia (54,1%) e a Saúde Pública (49% de acertos) é assustador, e são a prova cabal do que tenho criticado desde quando presidi a Associação Médica Brasileira e combati a formação de novas Escolas Médicas sem a preocupação de qualificação ou de necessidade social e demográfica delas.
Uma Escola de Medicina não pode ser usada como se fosse prêmio de consolação autorizada a funcionar pelo Ministério da Educação com qualidade absolutamente contestável, algumas delas com corpo docente de formação e capacitação discutível, falhas na grade curricular e até sem hospital escola.
Os índices de reprovação apontados acima, bem como os de avaliações anteriores, desde que a avaliação foi iniciada em 2007, são a prova indiscutível da tese defendida e demonstram que os formandos não estão preparados para exercer a profissão. Isto, de acordo com a avaliação do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo com estudantes do sexto ano, significa que quase 50% deles não sabem ler exames de laboratório clínico, interpretar simples imagens radiográficas ou fazer diagnóstico após receber informações dos pacientes. Como saberão então estabelecer a terapêutica adequada e precisa para um tratamento correto e eficiente?
Que não se de ao acadêmico de Medicina, ao formando, a responsabilidade deste caos. Seus pais ou até eles próprios pagaram mensalidades vultosas, convictos de que receberiam conhecimentos de qualidade. Qualidade esta, atestada pelo governo, para bem exercer a profissão abraçada.
Os acadêmicos dedicaram intensamente, via de regra, seis anos de sua vida ao aprendizado após passarem por um extenuante processo de vestibular para ingresso numa faculdade que funciona autorizada e fiscalizada pelo Ministério da Educação. É necessário avaliar as escolas médicas através dos formandos delas egressos, não para punir o acadêmico, mas para se tomar atitudes contra o mecanismo formador.
Não permitir realizações de novo exame vestibular naquelas escolas que não tenham determinado nível de aprovação no total de seus formandos e até fechá-las se reincidente. Os alunos reprovados devem ser reciclados por conta do Estado, o principal culpado.
Dr. Mario da Costa Cardoso Filho – Diretor Técnico da Sociedade Portuguesa de Beneficência, Secretário Geral da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, Diretor Executivo da Associação Brasileira de Medicina de Urgência e Emergência e Ex-Presidente da Associação Médica Brasileira e Unimed de Santos.